Das Américas para o mundo: o desafio da globalização da doença de Chagas

  • Ana Rita Ferrão Unidade de Ensino e Investigação de Clínica Tropical, Instituto de Higiene e Medicina Tropical Universidade Nova de Lisboa
  • Marcelo Sousa Silva Unidade de Ensino e Investigação de Clínica Tropical, Instituto de Higiene e Medicina Tropical Universidade Nova de Lisboa
  • Jorge Atouguia Unidade de Ensino e Investigação de Clínica Tropical, Instituto de Higiene e Medicina Tropical Universidade Nova de Lisboa
  • Jorge Seixas Unidade de Ensino e Investigação de Clínica Tropical, Instituto de Higiene e Medicina Tropical Universidade Nova de Lisboa
Palavras-chave: Doença de Chagas, Doença tropical negligenciada, Globalização, Trypanosoma cruzi, Tripanosomíase Americana

Resumo

A doença de Chagas é causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi e pode ser transmitida aos humanos através do insecto vector triatomíneo (apenas na América latina), de mãe para filho, por transfusão, por transplante ou por via oral. Após uma fase aguda de algumas semanas de duração, a doença evolui cronicamente durante décadas, de forma assintomática. Até 40% dos indivíduos nesta fase progridem para a fase crónica sintomática, caracterizada por insuficiência cardíaca progressiva com arrítmicas severas e/ou dilatações do trato digestivo. O deslocamento de um número cada vez mais elevado de migrantes da América Latina para a Europa faz com que a doença de Chagas seja actualmente um problema de saúde pública nesta região. Em Portugal o número de imigrantes latino-americanas tem aumentado ano após ano, destacando-se o Brasil como país de origem. No entanto, o número de residentes latino-americanos com doença de Chagas em Portugal é desconhecido. A Organização Mundial de Saúde preconiza a realização de rastreios para a prevenção da transmissão de T. cruzi em área não-endémica. Esta prevenção deverá ser efectuada ao nível das transfusões sanguíneas, transplantação de órgãos e transmissão vertical. No entanto, apenas alguns países europeus efectuam rastreios sistemáticos para a doença de Chagas. Em Portugal existem apenas 9 casos confirmados de doença de Chagas, o que constitui, segundo as estimativas do número potencial de infectados por T. cruzi, uma enorme discrepância. Foram efectuados no nosso país dois estudos epidemiológicos para detecção de T. cruzi, sendo que um deles ainda se encontra em curso. Nestes estudos não foram, até à data, encontrados casos positivos. A doença de Chagas é ainda uma doença negligenciada, pouco conhecida pela maioria dos profissionais de saúde e cujo diagnóstico e terapêutica estão ainda longe de ser ideais. Os desafios colocados pela sua globalização poderão ajudar a obter avanços no seu processo de erradicação.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

Ayo, C. et al., 2013. Genetic Susceptibility to Chagas Disease: An Overview about the
Infection and about the Association between Disease and the Immune Response Genes.
BioMed Research International. Volume 2013, Article ID 284729
http://dx.doi.org/10.1155/2013/284729
Basile, L. et al., 2011. Chagas disease in European countries: the challenge of a surveillance
system. Eurosurveillance, 16(37), pp.1-10.
Chagas Disease Europe Working Group, informação pessoal, 2013.
Cook, G.C. & Zumla, A.I., 2009. Manson’s Tropical Diseases 22nd ed. Cook & Zumla, ed.,
China: Saunders Elsevier.
Comissão das Comunidades Europeias, 2006. Directiva 2006/17/CE da Comissão. Jornal
Oficial da União Europeia, p.L 38/40.
Cortez, J. et al., 2012. Emerging and under-recognized Chagas cardiomyopathy in
non-endemic countries. World Journal of Cardiology, 4(7), pp.234-239.
Dias, E. et al., 1956. Chagas’ Disease; a Clinical, Epidemiologic, and Pathologic Study.
Circulation, 14(6), pp.1035-60.
Ferrão, A., Silva, M., Atouguia, J., Seixas, J., 2012. Estudo Piloto Sobre a Prevalência da
Doença de Chagas em Grávidas Latino-americanas em Portugal – Tese de Mestrado. Instituto
de Higiene e Medicina Tropical.
Ferrão, A., Silva, M., Atouguia, J., Seixas, J., Em preparação. Estudo Piloto Sobre a Prevalência
da Doença de Chagas em Grávidas Latino-americanas em Portugal.
Flores-Chávez, M. et al., 2007. Diagnóstico de laboratorio de la enfermedad de Chagas
importada. Enfermedades Infecciosas y Microbiología Clínica, 25(Supl. 3), pp.29-37.
Flores-Chávez, M. et al., 2008. Fatal congenital Chagas’ disease in a non-endemic area: a
case report. Cases Journal, 1.
Flores-Chávez, M. et al., 2009. Comparación de técnicas serológicas convencionales y no
convencionales para el diagnóstico de la enfermedad de Chagas importada en España. Enfermedades
Infecciosas y Microbiología Clínica, 28(5), pp.284-93.
Fondation Merieux & World Health Organization, 2008. Focus on Neglected Tropical Diseases:
Chagas Disease a Public Health Threat in the Americas & Beyond, Veyrier du Lac.
Gascon, J., Bern, C. & Pinazo, M.-J., 2009. Chagas disease in Spain, the United States and
other non-endemic countries. Acta tropica, 115(1-2), pp.22-27.
Generalitat de Catalunya - Departament de Salut, 2010. Protocol de cribratge i diagnòstic de
malatia de Chagas en dones embarassades llatinoamericanes i en els seus nadons, Barcelona.
Góis, P., Marques, J.C. & Padilla, B., 2009. Segunda ou terceira vaga? As características da
imigração brasileira recente em Portugal. Revista Migrações, 5, pp.111-133.
Guerri-Guttenberg, R.A. et al., 2008. Chagas cardiomyopathy: Europe is not spared! European
Heart Journal, 29(21), pp.2587-2591.
Instituto Nacional de Estatística, 2010. Revista de Estudos Demográficos Instituto Nacional de
Estatística, ed., Lisboa.
Internet: http//www.berenice-project.eu/. Acedido em 9.10.2013.
Jackson, Yves et al., 2009. Congenital Transmission of Chagas Disease in Latin American
Immigrants in Switzerland. Emerging Infectious Diseases, 15(4), pp.601-603.
Junior, A.R., Rassi, S.G. & Rassi, A., 2001. Sudden death in Chagas’ disease. Arquivos Brasileiros
de Cardiologia, 76(1), pp.86-96.
Laranja, Francisco S., Dias, Emmanuel & Nobrega, Genrad, 1948. Clínica e terapêutica da
doença de Chagas. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, 46(2), pp.473-529.
Maudlin, I., Holmes, P.H. & Miles, Michael A., 2004. The Trypanosomiases, 1st ed. CABI
Publishing. ed., Trowbridge: Cromwell Press.
Marin-Neto, J. Antonio et al., 2009. The BENEFIT trial: testing the hypothesis that trypanocidal
therapy is beneficial for patients with chronic Chagas heart disease. Memórias do
Instituto Oswaldo Cruz, 104(June Suppl. I), pp.319-324.
Molina, I. et al., 2012. Evaluación de Posaconazol como nuevo agente contra la enfermedad
de Chagas. VIII taller sobre la enfermedad de Chagas importada, Avances en el tratamiento
antiparasitario, pp.21-22.
Nisida, I.V. et al., 1999. A Survey of Congenital Chagas’ Disease, carried out at Three Health
Institutions in São Paulo City, Brazil. Revista do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo,
41(5), pp.305-311.
Otani, M.M. et al., 2009. WHO comparative evaluation of serologic assays for Chagas
disease. Transfusion, 49(6), pp.1076-1082.
Pérez-Molina, J.A. et al., 2009. Use of benznidazole to treat chronic Chagas’ disease: a
systematic review with a meta-analysis. The Journal of Antimicrobial Chemotherapy, 64(6),
pp.1139-47.
Piron, M. et al., 2008. Seroprevalence of Trypanosoma cruzi infection in at-risk blood donors
in Catalonia (Spain). Transfusion, 48(9), pp.1862-1868.
Queirós, L., et al. 2010. Estudo Epidemiológico da Doença de Chagas em Dadores de
Sangue. AB0, 41, pp.29-34.
Rassi, A. & Marin-Neto, José Antonio, 2010. Chagas disease. Lancet, 375(9723), pp.1388-
1402.
Reiche, E.M.V. et al., 1996. Doença de Chagas congênita : epidemiologia , diagnóstico
laboratorial , prognóstico e tratamento. Jornal de Pediatria, 72(3), pp.125-132.
Rueda, A.B. et al., 2009. Enfermedad de Chagas Importada. Protocolo de Actuación en la Comunitat
Valenciana Generalitat Valenciana - Conselleria de Sanitat, ed., Valencia.
Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, 2012. Relatório de Imigração Fronteiras e Asilo, Oeiras.
Shikanai-Yasuda & Carvalho 2012. Oral Transmission of Chagas Disease. Emerging Infections,
2012:74, pp.845-852.
Sicuri, E. et al., 2011. Economic evaluation of Chagas disease screening of pregnant Latin
American women and of their infants in a non endemic area. Acta tropica, 95 118(2),
pp.110-117.
Torrico, F., 2011. Rationale and design of a proof-of-concept phase II clinical study of
E1224, a new drug candidate for chronic Chagas disease. Tropical Medicine & International
Health, 16(Supp. I), pp.21-22.
Velarde-Rodríguez, M. et al., 2009. Need for comprehensive health care for Trypanosoma
cruzi infected immigrants in Europe. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical,
42(Sup. II).
Villar JC, Villar LA,Marin-Neto JA, Ebrahim S, Yusuf S. Trypanocidal drugs for chronic
asymptomatic Trypanosoma cruzi infection. Cochrane Database of Systematic Reviews 2002, Issue
1. Art. No.: CD003463. DOI: 10.1002/14651858.CD003463.
Viotti, R. et al., 2011. Impact of aetiological treatment on conventional and multiplex
serology in chronic Chagas disease. PLoS neglected tropical diseases, 5(9), p.e1314.
Wilson, L.S. et al., 2008. Cost-effectiveness of implementation methods for ELISA serology
testing of Trypanosoma cruzi in California blood banks. The American Journal of Tropical
Medicine and Hygiene, 79(1), pp.53-68.
WHO Expert Committee, 2002. Control of Chagas Disease, Genebra.
World Health Organization, 2007. Reporte sobre la enfermedad de Chagas, Buenos Aires.
World Health Organization, 2008. Chagas disease : control and elimination Report of the Secretariat,
Genebra.
World Health Organization, 2009b. Control and prevention of Chagas disease in Europe, Genebra.
World Health Organization, 2010. Chagas disease : control and elimination, Genebra.
World Health Organization, 2011. Working to overcome the global impact of neglected tropical
diseases, Genebra.
Publicado
2018-09-08
Como Citar
1.
Ferrão AR, Sousa Silva M, Atouguia J, Seixas J. Das Américas para o mundo: o desafio da globalização da doença de Chagas. ihmt [Internet]. 8Set.2018 [citado 25Abr.2024];12:66-0. Available from: https://anaisihmt.com/index.php/ihmt/article/view/193