VETORES E HOSPEDEIROS INTERMEDIÁRIOS INVERTEBRADOS
Resumo
As doenças t ransmit idas por vetores e out ros invertebrados representam um enorme peso na saúde humana e veterinária, se t ivermos em conta que 3,3 milhares de milhão de pessoas estão em risco de cont raírem malária e que, em 2010, as mortes por malária foram est imadas em 655 mil (WHO, 2012), que a schistosomose e as geohelmintoses afetam 2 milhares de milhão de pessoas, provocando morbilidade em 300 milhões (WHO, 2006), e que 350 milhões de pessoas se encont ram em risco de cont rair leishmaniose (WHO, 2010), para apenas mencionar algumas doenças parasitárias. Contudo, o panorama é mais vasto e doenças virais t ransmit idas por vetores têm vindo a crescer assustadoramente, inclusive em locais antes t idos como improváveis, como os surtos de infeção por vírus do Nilo Ocidental e Chikungunya, não esquecendo a dengue, uma pandemia crescente à qual Portugal não se encont ra imune. As doenças t ransmit idas por vetores e hospedeiros Intermediários invertebrados têm uma complexidade acrescida no seu cont rolo e prevenção, que advém da dificuldade em prever o seu comportamento, da diversidade de biótopos a eles associados e da sua capacidade de evadirem as medidas de cont rolo, resist indo aos inset icidas, larvicidas e moluscicidas. Out ro nível de complexidade é a interação ent re os hospedeiros e os organismos patogénicos, havendo pouca informação sobre os mecanismos de regulação da infeção pelo vetor. O impacto das doenças t ransmit idas por vetores, assim como a consciencialização das implicações das alterações climát icas na saúde humana, têm desencadeado um interesse crescente, na sociedade e na comunidade cient ífica, sobre os vetores das principais doenças, nomeadamente quanto ao modo de as cont rolar, eliminar ou até erradicar, já que, no passado, o sucesso no cont rolo destas doenças esteve sempre associado ao cont rolo vetorial. Este interesse tem sido potenciado com a evolução rápida da tecnologia e a publicação do genoma de muitas espécies vetoras e hospedeiros intermediários invertebrados (ht tp://www.vectorbase.org/; ht tp:// biology.unm.edu/biomphalaria-genome/consort ium.html). O estudo dos vetores e hospedeiros intermediários invertebrados no IHMT tem sido uma área com forte implementação e impacto externo, em part icular nos países africanos de língua oficial portuguesa (PALOPs), cont ribuindo amplamente para o seu conhecimento cient ífico, incluindo a implementação de abordagens inovadoras que cont ribuiram, com sucesso, para a redução da incidência de várias doenças t ransmit idas por estes invertebrados, como os exemplos que são abordados seguidamente. Neste capítulo, pretende rever-se diversos aspetos da biologia dos vetores e hospedeiros intermediários, assim como a sua interação com os organismos patogénicos. O objet ivo não é fazer uma revisão exaust iva mas sublinhar alguns aspetos mais importantes, tanto nas temát icas mais t radicionais como as abordagens mais recentes e inovadoras, tendo presente os desafios colocados pelas novas tecnologias aplicadas ao estudo e cont rolo dos vetores e hospedeiros intermediários, não esquecendo o cont ributo da invest igação efetuada no IHMT para esta área fundamental no cont rolo de um grande número de doenças com elevado impacte em saúde humana e veterinária. Serão abordadas diversos aspetos da bioecologia de dois vetores de t ripanos-somat ídeos, as interações ent re o plasmódio e o vetor da malária e, finalmente, os moluscos como hospedeiros intermediários de helmintoses.