Efeito dos aspetos sociais, económicos e do sistema de saúde na cascata diagnóstica e terapêutica da tuberculose multirresistente em pacientes atendidos em Lisboa e no Rio de Janeiro

  • Marcela Bhering Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz. Rio de Janeiro, Brasil
  • Afranio Kritski Programa Acadêmico de Tuberculose, Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, Brasil
Palavras-chave: Tuberculose resistente a drogas, migração, diagnóstico, desfecho de tratamento, sistema de informação

Resumo

Introdução: Estado do Rio de Janeiro (ERJ) e Distrito de Lisboa (DL) apresentam elevada concentração de casos de tuberculose droga resistente (TB-DR).
Objetivos: Comparar a Vigilância Epidemiológica da TB multidroga resistente (MDR) no ERJ e no DL, de forma a compreender as diferenças e semelhanças.
Métodos: Estudo retrospetivo com abordagem quantitativa e qualitativa. Dados de TB-MDR foram extraídos do SITE-TB, de 2000 a 2016, e do SVIG-TB, de 2000 a 2014, no ERJ e no DL, respetivamente. Regressões multivariadas foram realizadas para estimar os fatores associados aos desfechos de tratamento. Para o ERJ, estimou-se a tendência da TB-MDR primária, a proporção e os fatores associados à subnotificação. No ERJ e no DL, na pesquisa qualitativa, foram realizadas entrevistas semiestruturadas com pacientes e profissionais da saúde, e utilizou-se análise de conteúdo temática.
Resultados: O insucesso de tratamento foi de 30,5% no DL e de 44,3% no ERJ. No DL, pacientes estrangeiros apresentaram 4,5 vezes mais chances de perda de seguimento. No ERJ, casos TB-XDR tiveram 4,7 mais chances de insucesso. No ERJ, verificou-se aumento de casos de TB-MDR primária entre 2000-2019 e uma subnotificação de 25,4% dos casos analisados. No estudo qualitativo observou-se problemas de desigualdade social associado à origem étnica das populações. No DL, observou-se um diagnóstico da resistência mais ágil, maior suporte social aos grupos de risco e medicamentos mais modernos, enquanto o ERJ houve melhor biossegurança e mais recursos humanos.
Conclusão: no DL há um tratamento mais centrado no paciente, enquanto no ERJ há uma baixa performance do fluxo entre a coleta de amostra e o diagnóstico e tratamento da resistência e ausência de políticas públicas que amparem o paciente com TB-DR, comprometendo a efetividade do tratamento. Sugere-se que no DL sejam desenvolvidas novas estratégias que melhorem a adesão dos pacientes estrangeiros por meio de ações que envolvam essas comunidades. No ERJ, com a baixa performance da cascata diagnóstica e terapêutica, com o aumento da transmissão da TB-MDR primária, é urgente otimizar o uso de testes moleculares que detectem DR como a primeira abordagem, agilizar o diagnóstico precoce de resistência aos medicamentos e melhorar avaliação dos contatos.

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Publicado
2024-01-31
Como Citar
1.
Bhering M, Kritski A. Efeito dos aspetos sociais, económicos e do sistema de saúde na cascata diagnóstica e terapêutica da tuberculose multirresistente em pacientes atendidos em Lisboa e no Rio de Janeiro. ihmt [Internet]. 31Jan.2024 [citado 26Jul.2024];22(2):75-6. Available from: https://anaisihmt.com/index.php/ihmt/article/view/459