As febres entéricas em África
Resumo
Introdução: Embora a febre tifoide tenha sido amplamente eliminada em regiões de alta renda, em locais com recursos limitados ela continua sendo um fardo significativo para a saúde pública. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima a carga global de febre tifoide em 11 a 20 milhões de casos por ano, resultando em cerca de 140.000 mortes. O impacto da febre tifoide é agravado pelo aumento da resistência antimicrobiana, complicações graves da doença e perda económica devido às repercussões desta doença em membros produtivos da população.Objetivo: Este artigo pretende apresentar uma revisão sobre a incidência das febres entéricas em África e em Angola, bem como uma análise da casuística da doença com complicações cirúrgicas registada no Hospital Central do Lubango (HCL), uma instituição da rede pública da região sul de Angola.
Material e métodos: foi realizada uma revisão bibliográfica da incidência da febre tifoide em África e uma recolha de dados publicados nos últimos 5 anos no Boletim Epidemiológico Nacional emitido pelo Ministério da Saúde de Angola. Foram obtidos e analisados os registos hospitalares informatizados do HCL compatíveis com o diagnóstico de febre tifoide e suas complicações durante o segundo semestre de 2022.
Resultados: quando comparada com a de outras regiões da OMS a incidência da doença é mais elevada na região africana, apresentando também maior prevalência de complicações e mortalidade. Em Angola, os dados nacionais dos últimos 5 anos mostram um aumento progressivo no número de casos. No HCL, a incidência das complicações da doença (peritonite por perfuração intestinal, hemorragia digestiva e sépsis) é elevada e atinge mais as idades pediátricas. A maior parte dos doentes complicados chegaram tardiamente ao hospital e a mortalidade foi elevada. A evolução destes doentes, com necessidade de várias laparotomias por múltiplas perfurações progressivas faz suspeitar de multirresistência bacteriana.
Conclusões: a alta frequência das complicações da doença registadas (de forma eventualmente mais precisa) no HCL, sugere que os registos apresentados a nível Nacional poderão constituir uma subestimativa. Em Angola, o panorama da febre tifoide não difere do quadro geral africano, a necessitar de mais e melhores estudos para redução do seu impacto.
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