A trajetória da rifapentina para o tratamento da tuberculose latente no Brasil: incorporação no Sistema Único de Saúde e perspectivas para a produção local

  • Luiz Villarinho Pereira Mendes Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca – Fundação Oswaldo Cruz (ENSP/Fiocruz).
  • Marilena Cordeiro Dias Villela Correa Instituto de Medicina Social Hésio Cordeiro – Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IMSHC/UERJ)
  • Anete Trajman Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio e Janeiro (UFRJ)
  • Claudia Garcia Serpa Osorio-de-Castro Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca – Fundação Oswaldo Cruz (ENSP/Fiocruz).
Palavras-chave: produção local de medicamentos, rifapentina, tuberculostáticos, tuberculose latente, história global da saúde, história da medicina

Resumo

 Estima-se que um quarto da população mundial esteja infetado pela tuberculose em sua forma latente (ILTB), sendo uma das principais causas da epidemia global de tuberculo- se (TB). Com o objetivo anunciado de melhorar a efetividade do tratamento da ILTB, a rifapentina foi incorporada no Sistema Único de Saúde (SUS) em 2021, a ser utilizada em associação com isoniazida, em doses semanais por um período de 3 meses (3HP) seguindo a recomendação da OMS.O objetivo desse estudo foi analisar a trajetória da rifapentina desde seu desenvolvimento até sua incorporação no SUS contextualizando-a à luz da história global da tuberculose e das políticas de medicamentos essenciais. Empregou-se metodologia mista, aliando análise de bancos de dados oficiais, revisão da literatura científica e cinza (documentos oficiais) e realização de entrevistas com experts. No último trimestre de 2021 teve início a distribuição da rifapentina do SUS que teve inúmeras particularidades e controvérsias: a) demora na chegada da formulação em dose fixa; b) desafios para adesão pelos profissionais e pacientes frente a outros medicamentos essenciais possíveis; e por fim c) desafios e perspetivas do desenvolvimento e produção local de uma formulação dose fixa desse medicamento no país, na tentativa de manter a tradição de luta pela autonomia farmacêutica, no país, desde a criação da CEME, nos anos 1970. Paralelamente, entre os anos 2003-2004, o termo One Health emerge, propondo abordar a saúde humana, necessariamente associada à saúde animal, atividades agrícolas e a própria urbanização. Sua proposta central: pensar a saúde como um ecossistema. Um evento epidêmico maior veio reforçar essa “inovação” epistêmica: a emergência da epidemia da gripe aviária H5N1, que se disseminou em quase todos os países do globo. E no século XXI, as premissas da abordagem conceitual one health, se “confirmaria” com o primeiro surto de SARS-COV. Entretanto, no caso brasileiro, uma das lições mais importantes da pandemia de COVID-19 foi a importância da soberania nacional na produção de insumos essenciais à saúde. Em um contexto de persistente carência da rifapentina no cenário global, o Brasil poderia desempenhar um papel importante na ampliação do acesso a esse bem terapêutico essencial.

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Biografias Autor

Luiz Villarinho Pereira Mendes, Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca – Fundação Oswaldo Cruz (ENSP/Fiocruz).

 

 

Claudia Garcia Serpa Osorio-de-Castro, Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca – Fundação Oswaldo Cruz (ENSP/Fiocruz).

 

 

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Publicado
2024-05-30
Como Citar
1.
Villarinho Pereira Mendes L, Correa M, Trajman A, Osorio-de-Castro C. A trajetória da rifapentina para o tratamento da tuberculose latente no Brasil: incorporação no Sistema Único de Saúde e perspectivas para a produção local. ihmt [Internet]. 30Mai.2024 [citado 15Jul.2024];23(1):44-2. Available from: https://anaisihmt.com/index.php/ihmt/article/view/476