Entre bozales e sujeitos de cor. A vacinação contra a varíola nas cidades do Rio de Janeiro e La Habana (1804-1808)
Resumo
O ano de 1804 marca a chegada da expedição espanhola coordenada pelo médico Francisco Javier de Balmis, que trouxe aos domínios espanhóis do continente americano a vacina contra a varíola, preventivo idealizado pelo inglês Edward Jenner em 1798. A presente comunicação objetiva apresentar dados acerca da vacinação de sujeitos escravizados e não brancos em Havana, Cuba, e no Rio de Janeiro, Brasil, entre os anos de 1804 e 1808. Nota-se que, embora a expedição de Balmis não tenha contemplado o Brasil, ainda assim, ocorreu a tentativa de difusão da vacinação antivariólica nesse país por meio da ação de comerciantes brasileiros que enviaram crianças escravizadas à Lisboa a fim de testarem o experimento antes da chegada da Corte de Dom João VI no Rio de Janeiro em 1808, como demonstram os documentos trocados entre os encarregados do Rei na colónia e o conselho ultramarino em Portugal. Tendo como referência as informações provenientes da imprensa em Havana e das obras completas do médico responsável pela vacinação na ilha, Dr. Tomás Romay y Chacón, foi possível conhecermos os impactos da medida preventiva na capital Havana. Partindo dos relatórios da Junta Central de La Vacuna, órgão que coordenava a vacinação na ilha, observa-se a alta razão de pessoas imunizadas entre os africanos recém-chegados, também chamados bozales, e a baixa adesão de pessoas brancas ao preventivo. A comparação entre as estratégias de vacinação em duas cidades americanas de grande importância para os impérios aos quais pertenciam na época colonial revelou a lógica racial que conduziu as ações dos vacinadores e das autoridades envolvidas com a vacinação, já que os escravizados recém-chegados ao continente foram os primeiros a testarem o preventivo em Cuba, ao mesmo tempo em que viabilizaram as primeiras tentativas de imunização no Brasil.
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