Doença do sono (1890-1920): Mandombe foi voluntário de pesquisa para seu povo?
Resumo
Este trabalho tem por objetivo contribuir para uma reflexão mais alargada, no âmbito da história da saúde global, a partir do estudo da história de um doente (de seu nome, Mandombe), e na investigação clínica sobre a tripanossomíase africana (doença do sono), na virada do século XIX para o século XX. Como metodologia, estabelecemos um diálogo entre os diversos tipos de fontes de interesse para o presente estudo - manuscritas, datilografadas e impressas, tais como prontuários médicos, correspondências, livros de registos de pacientes, livros de pesquisa em pacientes e seus animais domésticos, diários de campo, desenhos e mapas, publicações em revistas científicas e recortes de jornais do período - e uma bibliografia sobre a história da medicina tropical, sobre a colonização europeia e sobre os modos de produção de conhecimento científico. A partir de uma análise do “caso Mandombe”, descrito pelo médico do London Hospital, Stephen Mackenzie, indicamos como a documentação, a princípio, médica, sobre a doença do sono, torna possível compreendermos e analisarmos, também, as circunstâncias do adoecimento, da prestação de cuidados de saúde, a condução das pesquisas clínicas em pessoas e em animais, em campo, as publicações delas derivadas, a participação de pessoas afetadas pela doença do sono nestas pesquisas e, por fim, a relação desses doentes com as instituições com as quais se envolveram, entre os inúmeros aspetos das vidas dessas pessoas em espaços afetados pela doença e pela violência da situação colonial. Este quadro multifacetado permitir-nos-á utilizar este trabalho para uma reflexão mais alargada do conceito de One Health, bem como a sua materialização no contexto da história colonial e da história da medicina tropical, em África.
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Referências
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