Violência contra os trabalhadores da saúde no local de trabalho na cidade de Lichinga, província de Niassa, Moçambique entre março e maio de 2019

  • Sérgio Roques Patrício Antropólogo (Mestrando em Saúde Pública); Instituto de Investigação Sócio-Cultural, Niassa, Moçambique
  • Mohsin Sidat MD, PhD (Saúde Pública); Faculdade de Medicina, Universidade Eduardo Mondlane, Maputo, Moçambique e Research Center on GHTM, Instituto de Higiene e Medicina Tropical, Universidade Nova de Lisboa, Portugal
  • Paulo Ferrinho Professor Catedrático de Saúde Internacional. GHTM, Instituto de Higiene e Medicina Tropical, Universidade Nova de Lisboa, Portugal

Resumo

Introdução: O reconhecimento da violência contra os trabalhadores da saúde (TDS) no local de trabalho como um fenómeno que compromete os cuidados de saúde e as relações entre os utentes dos serviços de saúde e os TDS tem estado a crescer no mundo. Em Moçambique são poucos os estudos sobre a violência no local de trabalho no sector da saúde. Com este estudo caracterizamos a violência contra os TDS em Lichinga, no norte de Moçambique. Material e métodos: Trata-se de um estudo observacional, descritivo, transversal que decorreu de março a maio de 2019, envolvendo 140 TDS dos quais, 120 exercendo no Hospital Provincial de Lichinga e no 20 no Centro de Saúde da cidade de Lichinga, na província de Niassa. O questionário aplicado foi adaptado do original desenvolvido pela Organização Internacional do Trabalho, o Conselho Internacional de Enfermeiros, a Organização Mundial da Saúde e os Serviços Públicos Internacionais sobre a violência no local de trabalho. Os dados colhidos foram introduzidos numa base de dados em SPSS 20.0 e feita uma análise descritiva: frequências absolutas e relativas, médias e desvios padrão. Resultados: Este estudo confirma: a elevada prevalência de violência; uma tipologia de violência fisica, ameaça/agressão verbal, pressão moral, violência ou assédio sexual e discriminação, semelhante à observada noutros países e em 2003 em Maputo; um perfil de agressores constituido mais frequentemente por acompanhantes dos doentes/utentes ou colegas da instituição embora com menos realce para a agressão pelos doentes/utentes; uma perceção de que a violência é aceite de uma forma passiva; que os TDS não conhecem os procedimentos para tramitar as queixas; que os TDS se mostram geralmente preocupados com o risco de violência no seu local de trabalho e insatisfeitos com a forma como a instituição responde a essas queixas; e que a violência é percebida pelos TDS como sendo prevenível. Conclusão: Este estudo documenta uma elevada prevalência de diferentes tipos de violência contra os TDS. Há necessidade óbvia de intervenções para a prevenção destes incidentes.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

Blume TW. Social Perspectives on Violence. Michigan Family Review. 1996; 2 (n=1, Spring): 9-23. DOI: http://dx.doi.org/10.3998/mfr.4919087.0002.102.

Eisner M. Modernity Strikes Back? A Historical Perspective on the Latest Increase in Interpersonal Violence (n=1960–1990). International Journal of Conflict and Violence. 2008; 2 (n=2): 288–316.

Silva, I. V; Aquino, E. M.; Pinto, I. C. M. (n=2014). Violência no Trabalho: Um Estudo com servidores Públicos de Saúde. CICS/ENSP/FIOCRUZ.

International Labour Office/International Council of Nurses/World Health Organization/Public Services International. Framework Guidelines for Addressing Workplace Violence in the Health Sector. Geneva, International Labour Office. 2002.

Ferrinho, P.; Biscaia, A.; Fronteira, I.; Craveiro, I.; Antunes, A.R.; Conceição, C.; Flores, I. & Santos, O. (n=2003). Patterns of Perceptions of workplace violence in the Portuguese health care sector. Human Resources for Health, I:11.

World Healtjh Organization. The World Health Report 2006.: Working Together for Health. Geneva, WHO, 2006.

Di Martino, V. (n=2002). Workplace violence in the health sector. Country case studies Brazil, Bulgaria, Lebanon, Portugal, South Africa, Thailand and an additional Australian study. Ginebra: Organización Internacional del Trabajo.

Steinman, S. (n=2003). Workplace Violence In The Health Sector: Country Case Study: South Africa Workplace Violence In The Health Sector. Geneva.

Ehlers, V. J., Oosthuizen, M. J., Bezuidenhout, M. C., Monareng, L. V., & Jooste, K. (n=2003). Post-basic nursing students’ perceptions of the emigration of nurses from the Republic of South Africa: research. 8(n=4), p.24–37. http://reference. sabinet.co.za/webx/access/electronic_journals/health/health_v8_n4_a4.pdf.

King, L.A. & McInerney, P.A., 2006, ‘Hospital workplace experiences of registered nurses that have contributed to their resignation in the Durban metropolitan area’, Curationis 29(n=4), 70–81.

Kennedy, M. & Julie, H., 2013, ‘Nurses’ experiences and understanding of workplace violence in a trauma and emergency department in South Africa’, Health SA Gesondheid 18(n=1), Art. #663, 9 pages. http://dx.doi.org/10.4102/hsag.v18i1.663

Jira C. Assessment of the prevalence and predictors of workplace violence against nurses working in referral hospitals of Oromia regional state, Ethiopia. JIMS8M: J Indian Manag Strateg. 2015;20(n=1):61–4.

Muzembo BA, Mbutshu LH, Ngatu NR, et al. Workplace violence towards Congolese health care workers: a survey of 436 healthcare facilities in Katanga province, Democratic Republic of Congo. J Occup Health. 2015;57(n=1):69-80. doi:10.1539/joh.14-0111-OA.

Fute M, Mengesha ZB, Wakgari N, Tessema GA. High prevalence of workplace violence among nurses working at public health facilities in Southern Ethiopia. BMC Nurs. 2015;14:9. doi: 10.1186/s12912-015-0062-1

Yenealem DG, Woldegebriel MK, Olana AT, Mekonnen TH. Violence at work: determinants & prevalence among health care workers, northwest Ethiopia: an institutional based cross sectional study. Ann Occup Environ Med. 2019;31:8. Published 2019 Apr 3. doi:10.1186/s40557-019-0288-6

Ayalew A, Abebaw D, Birhanu A,1 Zerihun A, Assefa D. Prevalence and Associated Factors of Violence against Hospital Staff at Amanuel Mental Specialized Hospital in Addis Ababa, Ethiopia. Psychiatry Journal Volume 2019, https://doi.org/10.1155/2019/3642408

Sisawo EJ, Ouédraogo SYYA, Huang SL. Workplace violence against nurses in the Gambia: mixed methods design. BMC Health Serv Res.2017;17(n=1):311. doi: 10.1186/s12913-017-2258-4

Boafo, I. M., Hancock, P., & Gringart, E. (n=2016). Sources, incidence and effects of nonphysical workplace violence against nurses in Ghana. Nursing Open, 3(n=2), 99–109. http://dx.doi.org/10.1002/nop2.43.

Boafo IM. Ghanaian nurses’ emigration intentions: The role of workplace violence. International Journal of Africa Nursing Sciences 5 (n=2016) 29–35. http://dx.doi.org/10.1016/j.ijans.2016.11.001

Boafo, Isaac Mensah (n=2018). The effects of workplace respect and violence on nurses’ job satisfaction in Ghana: a cross-sectional survey. Human Resources for Health. 16:6 DOI 10.1186/s12960-018-0269-9.

Banda CK, Mayers P, Duma S. Violence against nurses in the southern region of Malawi. Health SA Gesondheid, vol. 21, pp. 415–421, 2016.

Azodo CC, Ezeja EB, Ehikhamenor EE. Occupational violence against dental professionals in southern Nigeria. Afr Health Sci. 2011;11(n=3):486–92.

Ogbonnaya GU, Ukegbu AU, Aguwa E, Ukaegbu UE. A study on workplace violence against health workers in a Nigerian tertiary hospital. Nigerian journal of medicine: journal of the National Association of Resident Doctors of Nigeria. 2013; 21(n=2):174-9.

Abodunrin O, et al. Prevalence and forms of violence against health care professionals in a South-Western city, Nigeria. Sky J Med Med Sci.

;2(n=8):67–72. 18.

Abdullahi IH, Kochuthresiamma T, Saleh NG. Workplace Violence (n=WPVAW) against Female healthcare providers: The Picture in Nothern Nigeria. Research & Reviews: A Journal of Health Professions. 2018; 8(n=1): 42–46p.

Seun-Fadipe CT , Akinsulore AA , Oginni OA . Workplace violence and risk for psychiatric morbidity among health workers in a tertiary health care setting in Nigeria: prevalence and correlates. Psychiatry Res. 2019;272:730–6. doi:10.1016/j.psychres.2018.12.177

Newman CJ, et al. Workplace violence and gender discrimination in Rwanda’s health workforce: increasing safety and gender equality. Hum Resour Health. 2011;9:1–13.

Mbada CE, OgunseunIP, Fasuyi FO, Adegbemigun OD, Fatoye CT, Idowu OA, Johnson OS, Adesola IP, Odole AC, Okonji AM, Kaka B, Fatoye F.

Prevalence and correlates of bullying in physiotherapy education in Nigeria. BMC Medical Education. 2020; 20:112 https://doi.org/10.1186/s12909-020-02019-2

Bidwell P, Laxmikanth P, Blacklock C, Hayward G, Willcox M, Peersman W, Moosa S, Mant D. Security and skills: the two key issues in health worker migration. Global Health Action. 2014; 7: 24194 - http://dx.doi.org/10.3402/gha.v7.24194

Couto, M.T. & Lawoko, S. (n=2011). Burnout, workplace violence and social support among drivers and conductors in the road passenger transport sector in Maputo City, Mozambique. J Occup Health. 53(n=3):214-21. Epub 2011 Apr 7.

Conceição C, Ferrinho P, Omar C, Blaise P, Lerberghe WV. Hospitais de primeira referência em Moçambique: poucos e desiguais. Revista Médica de Moçambique. 2008; 9 (n=2): 26-38.

Ferrinho, P. & Omar, C. (n=2005). Recursos Humanos da Saúde em Moçambique: Ponto de situação. Banco Mundial: Região de África. Maputo.

Adam Y, Caldas A, Aly Z, Capece SP. Violence Against Health Personnel in some Health Care Units In Maputo City. ILO, WHO, PSI Joint Programme on Workplace Violence in the Health Sector. Geneva. 2003.

Fernandes B, Botão C, Cambe MI, Muchine M, Mahomed M, Chidassicua JBU. Uma Abordagem Qualitativa Sobre Condições de Trabalho e Atendimento em Unidades Sanitárias de 4 Províncias de Moçambique. Revista Médica de Moçambique. 2010; 10: 81-88.

Sidat M, Chilundo B, Abacassamo F, Matavel O, Mbofana F, Cussimbua M, Idiong B, Van Der Roost D. Motivação e Satisfação com o Trabalho e o Impacto da Epidemia da Infecção por VIH em Profissionais de Saúde na Província de Tete, Moçambique. Revista Médica de Moçambique.2010; 10: 27-32.

República de Moçambique, Ministério da Saúde, Direção de Recursos Humanos. Plano Nacional de Desenvolvimento dos Recursos Humanos da Saúde - PNDRHS 2008-2015. Maputo. 2008.

Direcção Provincial de Saúde de Niassa. Relatório Anual de Prestação de contas do Departamento de Recursos Humanos. 31 de Dezembro. Lichinga. 2017.

Okeke SO, Mabuza LH. Perceptions of health care professionals on the safety and security at Odi District Hospital, Gauteng, South Africa. Afr J Prim Health Care Fam Med. 2017; 9(1):e1-e7. doi:10.4102/phcfm.v9i1.1441

Etukumana EA, Orie JB. Health workers’ perception on the safety and security policy of a tertiary hospital in Nigeria. Ibom Med J. 2014;7(1):8–12.

Cezar, E.S. & Marziale, M.H.P. (2006). Problemas de Violência ocupacional em um serviço de urgência hospitalar da Cidade de Londrina, Paraná, Brasil. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 22(1):217-221.

Xavier, A.C.H; Barcelos, C.R.V.; Lopes, J.P.; Chamarelli, P.G.; Ribeiro, S.S; Lacerda, L.S.; Palacios, M. (2008). Assédio moral no trabalho no sector

de saúde no Rio de Janeiro: algumas caracteristicas. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional. Vol. 33, núm. 117, pp. 15-22.

Talas, M.S.; Kocaoz, S.; Akguç, S. (2011). A Survey of Violence Against Staff Working in the Emergency Department in Ankara, Turkey. DOI: https://doi.org/10.1016/j.anr.2011.11.001.

Clements P, DeRanieri J, Clark K, Manno M, Kuhn D. Workplace violence and corporate policy for health care settings. Nursing Economics (2005), 23(3), 119-24.

Henry J, Ginn G. Violence prevention in healthcare organizations within a total quality management framework. Journal of Nursing Administration 2002, 32(9), 479-86.

Publicado
2020-10-21
Como Citar
1.
Patrício S, Sidat M, Ferrinho P. Violência contra os trabalhadores da saúde no local de trabalho na cidade de Lichinga, província de Niassa, Moçambique entre março e maio de 2019. ihmt [Internet]. 21Out.2020 [citado 15Jul.2024];19:63-0. Available from: https://anaisihmt.com/index.php/ihmt/article/view/357

Artigos mais lidos pelo mesmo (s) autor (es)